-Escoltam-no ao castelo,
Ouve-se algures na praça apinhada.
Os súbditos do reino da bicharada
Observavam a escolta, comitiva e aparato
Que ao mocho tinham zelo.
-Libertem-no, deixem-no ir - continuava
Alguém incógnito, no anonimato,
Escondido entre a multidão.
As tropas do porco, o rei daquela gente
Confiscavam os haveres da ave:
Livros, ferramentas, incluindo um velho pião,
Retortas, um alambique, vários frascos,
Até garrafas de aguardente,
Também cadernos já velhos e gastos.
-Fazêmo-lo para o bem desta sociedade!
Declamava o porco num discurso inspirado,
Justificando a necessidade
De o levar preso e algemado
contra a sua vontade.
-Libertem-no, gente ignóbil!
O tumulto alevantava-se em tom de rebelião
Mas o exército bem armado,
Subitamente abafa a revolução.
O rei mandara preparar o quarto
Com a mais fina e delicada seda
Onde hospedar o velho mocho já cansado,
Preparando-lhe um jantar farto,
Numa grande e real mesa.
-Peço-te lealdade, velho amigo,
Que sempre me preocupei com o povo, contigo!
Nestas duas vezes o seu discurso inspirado
Não o levou a qualquer lado.
Responde o mocho apreensivo:
-Muito cuidado com o seu uso,
Pois voltar a trás, pode já ser tarde
Quando cai nas mãos do abuso
Tão antiga e nobre arte.
Farei o que me pedis, real senhor,
Mas aviso-o que, se em diante, não trouxer amor,
Só nos trará perdição.
- Isso não sei - resmunga o rei
- É para o bem desta grande nação.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Tempo
O tempo que a morte traz,
O mesmo tempo que a vida ecoa
Parece correr à toa
Sem tino, destino ou tento.
Vem num sorriso ou lamento
Alinhar, em desalinho,
As linhas do ensinamento,
As maravilhas da ciência,
Tempo que leva ao esquecimento
Os azedumes da consciência.
Amadurece a idade e se ausenta
O tempo que se apresenta
Despindo as árvores no inverno frio,
Sem o qual, ao mar, não corre o rio
E, aos lábios rosados, um terno beijo.
Sem tempo não há desejo.
O tempo que vem na primavera,
Na ânsia de quem espera
Uma sincera prenda de amor,
No desabrochar de uma flor
Colorida em verde ramo
E num pipilar assaz jucundo
É o tempo que move o mundo,
Tempo de te dizer que te amo.
O mesmo tempo que a vida ecoa
Parece correr à toa
Sem tino, destino ou tento.
Vem num sorriso ou lamento
Alinhar, em desalinho,
As linhas do ensinamento,
As maravilhas da ciência,
Tempo que leva ao esquecimento
Os azedumes da consciência.
Amadurece a idade e se ausenta
O tempo que se apresenta
Despindo as árvores no inverno frio,
Sem o qual, ao mar, não corre o rio
E, aos lábios rosados, um terno beijo.
Sem tempo não há desejo.
O tempo que vem na primavera,
Na ânsia de quem espera
Uma sincera prenda de amor,
No desabrochar de uma flor
Colorida em verde ramo
E num pipilar assaz jucundo
É o tempo que move o mundo,
Tempo de te dizer que te amo.
A minha maior vitória
Sabes? Hoje saí
Pela porta aberta fechada para mim.
É de pedra, a calçada quente
Onde brinca a criançada inocente
E vermelho, um cravo ao sol no jardim.
Andorinhas, ao vento voam pelo céu azul,
Vindas em bandos do sul
Agraciando a primavera,
A fragrância a alecrim e rosmaninho.
Com elegância de quem se esmera,
Sem delonga, sem espera,
Fazem, nos beirais, o ninho
Sob a sombra das telhas do telhado.
Os seus pios são um concerto afinado.
Ah como é belo o rubro intenso
Das papoulas ladeando o caminho,
O fresco pasto do prado imenso
Abeirando-se nas límpidas águas da ribeira
Que sacia o gado que s'apascenta à beira
E também a velha fonte.
Imponentes, além do monte
Vi os choupos de um choupal
À luz do dilúculo quase bruxuleante.
Dei um outro passo em frente
Sentindo a brisa morena na cara,
Ouvindo seus segredos, confidente,
Trazidos à luz do dia tão branca e clara.
Contava-me traquinices, como uma catraia
Que bailava por entre anciãos pinheiros
Balouçando-os num bailado ligeiro,
Arremessando fina areia da praia.
Disse olá ao vento e senti-me bem
Enquanto me afastava da porta atrás.
Então senti-me em paz.
Balouçava com a brisa,
Ameaçando fechar
Soltando chios as dobradiças
Mas as andorinhas
Voando como quem ao vento desliza,
Com plumagem catita, castiça
Fizeram-me delirar.
Esquecia-me do medo do agora,
De estar lá fora
Sem fugir para dentro.
Sorvi a calma gotejante do momento
Que me veio saciar.
As estrelas por trás do sol escondidas,
Via-as! Cada uma a cintilar
Como pérolas ao sol perdidas.
Mais um passo dei. Tranpus o portão
De ferro ao fundo do jardim,
Sentindo o calor da calçada quente
Onde brincava a criançada inocente.
Num canto dormia um cão
Num canteiro de jasmim.
Quase livre segui em frente,
Acompanhando os sorrisos da catraiada.
Finalmente cheguei à estrada.
Pela rua passava azafamado
Um mar de gente
Como formigas dum formigueiro
Num carreiro, em viva lida.
Vi um ínfimo grão da vida
E a sua glória.
Sabes? Foi a minha maior vitória.
Pela porta aberta fechada para mim.
É de pedra, a calçada quente
Onde brinca a criançada inocente
E vermelho, um cravo ao sol no jardim.
Andorinhas, ao vento voam pelo céu azul,
Vindas em bandos do sul
Agraciando a primavera,
A fragrância a alecrim e rosmaninho.
Com elegância de quem se esmera,
Sem delonga, sem espera,
Fazem, nos beirais, o ninho
Sob a sombra das telhas do telhado.
Os seus pios são um concerto afinado.
Ah como é belo o rubro intenso
Das papoulas ladeando o caminho,
O fresco pasto do prado imenso
Abeirando-se nas límpidas águas da ribeira
Que sacia o gado que s'apascenta à beira
E também a velha fonte.
Imponentes, além do monte
Vi os choupos de um choupal
À luz do dilúculo quase bruxuleante.
Dei um outro passo em frente
Sentindo a brisa morena na cara,
Ouvindo seus segredos, confidente,
Trazidos à luz do dia tão branca e clara.
Contava-me traquinices, como uma catraia
Que bailava por entre anciãos pinheiros
Balouçando-os num bailado ligeiro,
Arremessando fina areia da praia.
Disse olá ao vento e senti-me bem
Enquanto me afastava da porta atrás.
Então senti-me em paz.
Balouçava com a brisa,
Ameaçando fechar
Soltando chios as dobradiças
Mas as andorinhas
Voando como quem ao vento desliza,
Com plumagem catita, castiça
Fizeram-me delirar.
Esquecia-me do medo do agora,
De estar lá fora
Sem fugir para dentro.
Sorvi a calma gotejante do momento
Que me veio saciar.
As estrelas por trás do sol escondidas,
Via-as! Cada uma a cintilar
Como pérolas ao sol perdidas.
Mais um passo dei. Tranpus o portão
De ferro ao fundo do jardim,
Sentindo o calor da calçada quente
Onde brincava a criançada inocente.
Num canto dormia um cão
Num canteiro de jasmim.
Quase livre segui em frente,
Acompanhando os sorrisos da catraiada.
Finalmente cheguei à estrada.
Pela rua passava azafamado
Um mar de gente
Como formigas dum formigueiro
Num carreiro, em viva lida.
Vi um ínfimo grão da vida
E a sua glória.
Sabes? Foi a minha maior vitória.
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Perdemos o autocarro
Perdemos o autocarro,
O último a passar.
Viemos a pé
E a assobiar.
A meio do caminho
Alguém disse num grito
Que andava no ar
Um cheiro esquisito.
O ar odorífero
Soprava da esquerda.
Cheirava a caruma,
A musgo e a merda.
Ficámos curiosos
Com a fragrância do ar.
Chegámos mais perto
Para apreciar.
Uma coisa insólita
Se estava a passar:
Um rapaz em cócoras
No pinhal a cagar.
O rapaz tão franzino
Excretava aos montões.
Saíam-lhe do cú
Grandes cagalhões.
Enquanto cagava,
E a acompanhar,
Largava favecas
Que o faziam saltar.
Veio uma rabanada
Mui forte de vento.
Desiquilibrou-se e caiu
Com o rabo no excremento.
Cagou a camisa,
As calças, as cuecas
E as bordas borradas
Pareciam panquecas.
Colou-se-lhe ao cú
Palha e areia.
O rapaz aflito
Viu a coisa feia.
No meio da aflição,
Com danças rabigas
Roçou o cú
Num molho de urtigas.
Era grande o queimor,
Também a comichão.
Esfregou o rego e as nádegas
Com os dedos da mão.
Picavam-lhe mosquitos
Em vários lados.
Coçou o corpo e a cara
Com os dedos borrados.
Vestiu-se e zarpou
Com ares pouco ridentes,
Cheio de pressa
E merda até aos dentes.
O último a passar.
Viemos a pé
E a assobiar.
A meio do caminho
Alguém disse num grito
Que andava no ar
Um cheiro esquisito.
O ar odorífero
Soprava da esquerda.
Cheirava a caruma,
A musgo e a merda.
Ficámos curiosos
Com a fragrância do ar.
Chegámos mais perto
Para apreciar.
Uma coisa insólita
Se estava a passar:
Um rapaz em cócoras
No pinhal a cagar.
O rapaz tão franzino
Excretava aos montões.
Saíam-lhe do cú
Grandes cagalhões.
Enquanto cagava,
E a acompanhar,
Largava favecas
Que o faziam saltar.
Veio uma rabanada
Mui forte de vento.
Desiquilibrou-se e caiu
Com o rabo no excremento.
Cagou a camisa,
As calças, as cuecas
E as bordas borradas
Pareciam panquecas.
Colou-se-lhe ao cú
Palha e areia.
O rapaz aflito
Viu a coisa feia.
No meio da aflição,
Com danças rabigas
Roçou o cú
Num molho de urtigas.
Era grande o queimor,
Também a comichão.
Esfregou o rego e as nádegas
Com os dedos da mão.
Picavam-lhe mosquitos
Em vários lados.
Coçou o corpo e a cara
Com os dedos borrados.
Vestiu-se e zarpou
Com ares pouco ridentes,
Cheio de pressa
E merda até aos dentes.
domingo, 16 de maio de 2010
Saudades tuas
Empreteço os tempos que me atormentam
O coração ávido dum beijo teu.
A cada segundo volvido aumentam
Saudades tuas, lamento meu.
Conto as horas que vêm para te ver,
Ânsia nos meus sonhos em pesadelo
Se sonhar contigo, em te perder:
Sonho, o qual, mais que quero, é esquecê-lo.
Lembro o teu sorriso e o olhar sereno
Como as ondas do mar calmo ao fim do dia.
Não sei se é antídoto ou veneno.
Mesmo de infinda a distância que nos separa,
Quando, ao longe, sinto a tua voz tão doce e clara
O meu peito pula e salta de alegria.
O coração ávido dum beijo teu.
A cada segundo volvido aumentam
Saudades tuas, lamento meu.
Conto as horas que vêm para te ver,
Ânsia nos meus sonhos em pesadelo
Se sonhar contigo, em te perder:
Sonho, o qual, mais que quero, é esquecê-lo.
Lembro o teu sorriso e o olhar sereno
Como as ondas do mar calmo ao fim do dia.
Não sei se é antídoto ou veneno.
Mesmo de infinda a distância que nos separa,
Quando, ao longe, sinto a tua voz tão doce e clara
O meu peito pula e salta de alegria.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Um homem sozinho
Perguntei a um homem sozinho,
Caído no chão
Desamparado:
- Porque vives abandonado,
Nas bermas deste caminho,
Qual é a tua história?
- Levei a vida em vão
Por trâmites sem qualquer glória,
Uma companhia, um amigo,
De alguém que caminhou comigo
Já não tenho memória.
Continuei apreensivo:
- Porque não te ergues e vais em frente,
Que pensas fazer doravante?
- Estou velho, cansado e doente,
Um moribundo, um indigente
Sem alento, sem vontade
De ir avante.
- E aqueles que, por ti, nutrem amor,
Que te foram força na dura adversidade?
- Esses, se os há, não sei,
Se os houve, nunca os encontrei.
Do mundo só trago dor.
Espero, ao crepúsculo, o anoitecer,
O fatídico perecer
No destino da idade.
Respondi-lhe compadecido:
- Estou agora aqui contigo.
- Mas hoje é tarde - returquiu.
E chamou-me amigo.
Caído no chão
Desamparado:
- Porque vives abandonado,
Nas bermas deste caminho,
Qual é a tua história?
- Levei a vida em vão
Por trâmites sem qualquer glória,
Uma companhia, um amigo,
De alguém que caminhou comigo
Já não tenho memória.
Continuei apreensivo:
- Porque não te ergues e vais em frente,
Que pensas fazer doravante?
- Estou velho, cansado e doente,
Um moribundo, um indigente
Sem alento, sem vontade
De ir avante.
- E aqueles que, por ti, nutrem amor,
Que te foram força na dura adversidade?
- Esses, se os há, não sei,
Se os houve, nunca os encontrei.
Do mundo só trago dor.
Espero, ao crepúsculo, o anoitecer,
O fatídico perecer
No destino da idade.
Respondi-lhe compadecido:
- Estou agora aqui contigo.
- Mas hoje é tarde - returquiu.
E chamou-me amigo.
sábado, 8 de maio de 2010
Merda coladiça
Ó Frederico
Coisa feia no penico
Ó Acácio
Coisa feia no bacio
Ó Odete
Coisa feia na retrete
Ó Sabina
Coisa feia na latrina
Ó Ferreira
Coisa feia na arrastadeira
Ó Mário
Coisa feia no sanitário
Ó Albano
Coisa feia no cano
Ó Urraca
Coisa feia na cloaca
Ó clara
Coisa feia na estrada
Ó Viriato
Coisa feia no sapato
Coisa feia
Que se pisa, prega e cola
E, quando se prende à sola,
Não há qualquer panaceia
Que a desprende ou descola.
Deixa um aroma que estala
Quando se prega ao sapato
E até mesmo suja o fato
De alguém que anda de gala.
Mesmo quem raspa e quem esfrega
Numa esquina de lancil,
Coisa feia que se prega,
Dificilmente se desprega,
Nem à roda de esmeril;
Coisa feia coladiça,
Coisa feia pegadiça.
Ó Frederico
Toda a gente te queria se fosses rico.
Ó Clara
Toda a gente te queria se fosses rara.
Se fosses ouro
Eras um tesouro.
Coisa feia no penico
Ó Acácio
Coisa feia no bacio
Ó Odete
Coisa feia na retrete
Ó Sabina
Coisa feia na latrina
Ó Ferreira
Coisa feia na arrastadeira
Ó Mário
Coisa feia no sanitário
Ó Albano
Coisa feia no cano
Ó Urraca
Coisa feia na cloaca
Ó clara
Coisa feia na estrada
Ó Viriato
Coisa feia no sapato
Coisa feia
Que se pisa, prega e cola
E, quando se prende à sola,
Não há qualquer panaceia
Que a desprende ou descola.
Deixa um aroma que estala
Quando se prega ao sapato
E até mesmo suja o fato
De alguém que anda de gala.
Mesmo quem raspa e quem esfrega
Numa esquina de lancil,
Coisa feia que se prega,
Dificilmente se desprega,
Nem à roda de esmeril;
Coisa feia coladiça,
Coisa feia pegadiça.
Ó Frederico
Toda a gente te queria se fosses rico.
Ó Clara
Toda a gente te queria se fosses rara.
Se fosses ouro
Eras um tesouro.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Quatro ventos
Com a brisa do norte fria,
Com a aragem quente do leste
Vêm beijos de poesia
Seja citadina ou agreste.
Do sul, em canto, a melodia,
Do ocidente, ao vento, entoada,
Soam delicados ecos de poesia
Como bela sinfonia afinada.
Com a aragem quente do leste
Vêm beijos de poesia
Seja citadina ou agreste.
Do sul, em canto, a melodia,
Do ocidente, ao vento, entoada,
Soam delicados ecos de poesia
Como bela sinfonia afinada.
sábado, 1 de maio de 2010
Vai, trabalhador
Trabalha, trabalhador.
O teu braço cansado ergueu cidades.
Vai à luta, lutador.
Trabalha, trabalhador
Que fizeste idades.
Vai, alevanta algo de novo,
Primogénito da destreza.
Póe o pão na mesa.
Vai, virtude e nobreza do povo.
O teu braço cansado ergueu cidades.
Vai à luta, lutador.
Trabalha, trabalhador
Que fizeste idades.
Vai, alevanta algo de novo,
Primogénito da destreza.
Póe o pão na mesa.
Vai, virtude e nobreza do povo.
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