sábado, 27 de maio de 2017

Para quê?

Para quê... tanto lutar,
De que serve essa ilusão?
Vamos todos acabar
Entre as tábuas dum caixão!

Para quê.. tantos julgados,
Assembleias de fiteira
Se acabamos condenados
P'la justiça derradeira?

Para quê... tanta ambição,
Origem de desatino
Se a todos, sem excepção,
Aguarda o mesmo destino?

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Uma canção dedicada ao Giocatore Internazionale

Giocatore, giocatore
vamos lá giocare.
Giocatore, giocatore,
Giocare p'ra ganhar.
E amanhã no campo, no relvado tu vais ser
O melhor giocatore e vais giocare para vencer.
Giocaotre...

Olha a bola, segue em frente
A correr como o vento
Quer defendas, quer ataques,
Não pares um momento
E com muita alegria vais jogar o futebol
Não importa se cai neve,
Se cai chuva ou faça sol.
Giocatore...

Giocatore, giocatore
vamos lá giocare.
Giocatore, giocatore,
Giocare p'ra ganhar.
E amanhã no campo, no relvado tu vais ser
O melhor giocatore e vais giocare para vencer.
Giocaotre...

Faz a festa na jogada
Encanta toda a gente
Domina, finta, dribla a bola,
Ilude o oponente,
Remata, marca o golo, leva ao rubro a multidão
Que adora o melhor, que grita pelo campeão.
Giocatore...

Giocatore, giocatore
vamos lá giocare.
Giocatore, giocatore,
Giocare p'ra ganhar.
E amanhã no campo, no relvado tu vais ser
O melhor giocatore e vais giocare para vencer.
Giocaotre...
Internazionale...

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Nada mais me apraz que a paz

Nada mais, ora, me apraz
que a paz...
a paz que quero e espero
e não tenho.
Nada mais, ora, me insatisfaz
o mal que trás
um caos tamanho.
Vou trazer, do ódio, amor,
Das trevas, o esplendor,
Encontrar na dor, satisfação.
Vou reconhecer o bem no mal
Sem magia ou ritual,
Sequer sinais de oração,
Inundar-me de eperança.
Vou-me encontrar
Onde quer que esteja
Não parar de procurar,
Nem que seja,
Na mais subtil lembrança.
Vou deixar de querer parar,
Vou continuar a andar
Quiçá vá até correr.
Não vou parar de crescer.
Nada mais me apraz
Que a paz que a luta traz,
Essa luta sem querelas
Tão serena como o mar
Onde toca nas estrelas
E me sinto perto delas.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Solidão

Só, me sinto bem
E só, somente canto
A canção que adoro.
Se não só vem
Lamúrias do meu pranto
Queixumes do meu choro.

Só, me sinto rei
Do reino de magia
E onde me acalento.
Se não só, nem sei
Se um só momento
É demasia.

Só, me sinto forte,
Estrénuo e possante
Como o estrondo dum trovão.
Se não só, sem sorte,
Insignificante
Vivo em vão.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Amor


O Amor é arco-da-velha
De mil cores no firmamento
É o sol numa centelha,
Um decénio num momento.

O Amor é misericórdia,
Piedade ao pecador,
Traz acordo, traz discódria,
É escuro, é esplendor.

O Amor é grande vitória
Da virtude da derrota.
É mito, lenda, é história
É fonte que seca e brota.

O Amor é terra e mar,
Um jovem de longa idade,
Desencanto de encantar,
É degredo, é liberdade.

O Amor, de são, delira,
É cego em ver tão bem.
É verdade, é mentira
É tudo e nada também.

O Amor é vida, é morte,
É alegria, é lamento.
É o azar que traz a sorte
Da fortuna de um tormento.

O Amor é Treva, é Luz,
É Deidade, é Demónio.
Tão contrário a si se aduz,
O Amor é também Ódio.

Princesa que a sorte me fez conhecer


Cândida boca de lábios molhados
Onde me encontro e me perco num beijo
Oceânico olhar de olhos ondeados
Onde me afogo e liberto em desejo

Corpo macio, silhueta perfeita
Fragrância a jasmim, a rosa e a cravo
Menina ladina que se esconde à espreita
De cujas saudades de mim fazem escravo

Sol do meio-dia, arrebol d'alvorada
Crepúsculo tardino ao fim da madrugada
Suspiro das minhas noites, auguro dos meus dias

Mélica carícia, sorriso de enternecer
Brilho lunar de estrelas luzidias
Princesa que a sorte me fez conhecer

domingo, 30 de dezembro de 2012

O lado oculto de Fernando Pessoa


Certo dia li, numa daquelas frases escritas não se sei por quem, numa parede, num muro ou num banco de jardim dum lugar ou rua que não me lembro qual, a frase:
«Ser tudo de todas as maneiras porque a verdade não pode estar em faltar ainda alguma coisa.»
Era frequente ler inadvertidamente este tipo de mensagens quando tinha a necessidade de calcorrear grandes distâncias ou esperar pacientemente a hora da partida numa estação de caminho-de-ferro. Devido à profundidade filosófica do conteúdo que pretende transmitir, imaginava o respectivo autor como sendo um valdevinos entregue aos seus delírios auto-infligidos. Porém, como o vim a descobrir mais tarde, trata-se de uma frase que constiui o excerto de um texto de Fernando Pessoa no qual o poeta esboça uma  preconização de uma religião superior aos portugueses. Transmite essencialmente a sua vontade de condensar, numa só, as várias religiões vivas ou adormecidas, necessidade que adveio do seu interesse pelo mundo hermético e ocultista.
A sua ligação com o oculto resultou, por um lado, do contacto de cariz profissional que estabeleceu com livros enquadrados no âmbito da nova era e, por outro, no ressurgimento de uma nova crise intelectual. Esta circunstância levou-o a inteirar-se dos aspectos inerentes às ordens secretas, tais como a Maçonaria ou a Rosa-Cruz. Isto observa-se na citação que epigrafa o seu poema Eros e Psique, trecho da tradução do latim do Ritual do Terceiro Grau da Ordem Templária de Portugal:
...E assim vedes, meu Irmão, que as verdades que vos foram dadas no Grau de Neófito, e aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.

Eros e Psique

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa Encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino -
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça em maresia,
Ergue a mão e encontra a hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
Segundo ele, a título de outro exemplo:
Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho esse extremamente perigoso, em todos os sentidos; o caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama o caminho alquímico, o mais difícil e mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm.