sábado, 25 de dezembro de 2010

O Rei nasceu

Pegureiros olhavam no céu
Uma luz no frio negro.
O Rei nasceu
Sem castelos, sem muralhas,
Para alcançar grandes vitórias
Sem o sangue das batalhas.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Uma história d'antes

A noite ia alta e crepitava,
Na lareira acesa,
Uma história que se contava
Dum livro aberto sobre a mesa.
O luar, à janela, espreitava
Por entre núvens e um galho que lhe batia,
De leve, na sobranceira elevada.
Aquilo que o avô lhe lia,
Os velhos tempos lembrava,
Belos contos de magia
Nos serões de nostalgia,
Ao neto que o escutava.
Dizia-lhe, com voz de sabedoria:
Nos muitos séculos que passaram,
Muitas guerras se travaram
Moldando o mundo de agora.
Hoje a história não é mágica,
Encanto que te adormece,
São histórias da História,
Da História dura e trágica
Que, como a noite fria lá fora,
Cada vez, mais se enegrece.
O neto fitava-o estarrecido,
Pois, para o Homem, a glória
É inglória dum homem embrutecido.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Professor presunçoso

O homem da sala
Crê-se um campeão
Por olhar um livro
P'ra dar a lição.

No jeito jactante,
Ar de mofa traz.
Trata cada aluno
Como um incapaz.

Mas debaixo desse
Sorriso de troça.
Encontra-se um asno
A puxar 'ma carroça.

O homem da sala
Que dá a lição,
Por olhar um livro
Crê-se um campeão.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Levado contigo

Tempo que foges e tudo mudas,
Da pele de cordeiro à pele de judas,
Já não tenho o passo que te acompanha.
Onde termina teu desaguar,
O teu fluir de imensidão tamanha?
A tua viagem é a minha viagem,
O teu andar é o meu andar
Mas não te posso acompanhar.
Já não sou roda na engrenagem
Nesta máquina de perpétuo movimento
De astros e tantas coisas mais.
Tempo, de onde vens, para onde vais?
Tudo, em ti evolui e eu me quedo,
Imutável, fixo, inalterável, permanente
Sem alguma intriga, algum enredo
Onde me prenda, me esconda, me enrede,
Me torne história. Sigo silente, indiferente,
Só existes para além de mim
Da minha memória que já nem de ti sabe,
Deste sentir que já nem em ti cabe.
Navego um mar de calma com ilhas de frenesim,
Intemporais como um todo teu
Vazio de tudo o quanto é meu
Sentindo apenas não ver o fim.
Levas-me pela mão, qual amigo
E sou, sem querer, levado contigo.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Habituado ao escuro

Não me exijas zelo,
Que cuide do que me cuida,
Sequer alegria.
Caído no fundo do poço,
No chão duro
Rocha fria,
o meu único alento,
Neste momento,
Foi ter-me habituado ao escuro.