sábado, 26 de maio de 2012

Eia

Eia princesa dum reino de atarantar!
Eia encanto dum conto de encantar!
Eia graça com que o fado me agraciou!
Eia bela estrela que o meu coração amou.
Eia tenro deleite de formosa deidade
Que faz do tempo de um segundo numa eternidade.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Vi o galo da ti Juca

Vi o galo da Ti Juca,
Atirei-lhe um pau à nuca
E o bicho estrebuchou.
-Estrebucha, estrebucha
Bicho. Pois, além de bruxa,
A tua dona é maluca
E o povo embruxou.
O galo, hirto, tombou,
Caiu pálido de vida exangue.
Gritei vitória, exacerbado
Ao ver esvair-se em sangue,
Morrendo aos poucos deitado.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Fui vilão

Chutei uma pedra
Tão dura, tão dura.
Que incúria, que incúria,
Dolente amargura!

Saiu disparada
Da ponta do pé,
Batendo com força
Na mona do Zé.

O homem gritou,
Correu estouvado,
Caiu estendido
No chão desmaiado.

Quão grande inchação
Fez-lhe a pedra dura
Tão negra, tão negra,
Tão escura, tão escura!

E eu claudicava,
Volvia a gemer.
Era intensa a dor
No pé a doer.

Alguém que passava
Mesmo ali ao lado,
Viu-me a saltitar
E o homem deitado.

Chamou a ambulância,
O padre e a guarda
Chegaram bombeiros,
Mas que linda farda.

Vieram polícias,
Doutores, jornalistas,
Também chimpanzés,
E até trapezistas.

Vi tantas pessoas,
Gordas e carecas
Vi altas, vi baixas,
Magras e marrecas.

Grande era a assistência
Ao palco montado:
Eu a agoniar
E o homem deitado.

Saiu a notícia
Na televisão.
O homem foi mártir
E eu fui vilão.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ó morte

Ó morte que me acalenta,
Grã virtude do fim da idade
Traz-me a sorte da liberdade
Do azar que me atormenta.

Ó morte, da vida eterna companheira,
Que traz, o tempo, na certa hora.
Vem aqui, à minha beira,
Vem agora, sem demora.

Ó morte, menina do meu encanto,
Monstra imane d'ontem temida
Vem hoje que te amo tanto
O quanto outrora amei a vida.