quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Hoje vi-a

Hoje vi-a
Tão amena como o sal
Num tempero de ternura.
Sorria...
Era um manancial
Ao sol do meio-dia,
Uma visão de candura.
Hoje o seu brilho rutilou
Fino como geleia real
Na língua e nos lábios
Que um beijo beijou,
Bela história de velhos sábios.
Hoje vi-a surgida,
Como a vira nunca antes,
Princesa dos desertos de areias quentes
Numa cidade de oiro perdida.
O encanto dos seus olhos
Tornou-se a doce e cálida fragrância
Duma paveia de fresco pasto
E montes de rosas aos molhos,
O desespero da minha ânsia.
Era um olhar tão terno e casto.
A manhã estava a meio,
O rio ia cheio
Da tempestade de ontem.
Passeava na margem,
Respirando a aragem
Pois livre à rua saí
E então a vi
E me prendi.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Poeta só

O sol da meia-noite vai alto,
O do meio-dia já se pôs.
Nocturno gaiato audaz
Diurno, jovial arauto.
As luas são catraias animadas
De quarto em quarto vão
Sempre meninas mimadas
Onde andam, onde estão.
O terceiro tímido sol
Cora-se em arrebol
No mundo roxo doutro mundo,
Planeta no espaço profundo.
Lá vive só com uma caneta
um poeta.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Vida que queria para mim

Entre a canízia da moita,
À noite, canície ao luar,
Vislumbro um vulto.
Será um viandante que ali pernoita,
Apenas um homem culto
Por ali a divagar
Ou a vista que me engana
Nesta conezia do tempo meu?
Quiçá, alguém que se esqueceu
No frio gelado lá fora
De tudo o que tanto ama,
Alguém perdido em melancolia
Que a vida abandonou;
Quiçá, alguém cheio de alegria
Que por ali se encontrou.
É pequena a janela do meu quarto
Que na noite de insónia vem,
Calvas moiteiras e pasto grado
Estendendo-se muito além;
Ao longe, uma ténue sombra
Que porventura me lembra alguém,
Por ali anda ao relento
Como um estranho mendigo
À procura de um amigo
Sem abrigo, sem alento.
Visto-me para encontrar um caminho
Por entre o pasto a maninho
Mas o gelo debilita a fúria
Nas altas horas que são.
-Sair de casa é incúria!
É desculpa para a longuidão.
Olho de novo a janela
O homem que muito além estivera
Levantara-se e zarpara avante.
Invejo o intrépido caminhante,
Fazer-se ao mundo ignoto, assim,
Calcorreando caminhos estranhos,
Vivendo acasos tamanhos,
Vida que queria para mim.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Era um lindo malmequer

Era um lindo malmequer do prado.
Entreguei-me ao seu encanto,
O seu chamamento encantado,
Ouvindo seu doce canto,
Harmonia que me chamou a si.
As pétalas eram mãos que senti,
Carícias de um efémero viver
No regaço desse airoso malmequer
Com cabelo aos caracóis brilhante.
Era meu sonho o perfume seu,
O olhar escuro como a lua nova
Na noite escura como o breu
Brilhando em brilho rutilante.
Queria-o meu assim, selvagem
Como sorriso eternamente jovem.
Colhê-lo-ia e trazia-o junto de mim
Deixando-o murchar comigo
Mas o seu tempo não chegara ao fim.
Sinto! Um malmequer tão belo assim
Bem me quer só como amigo.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Caí

Caí num buraco
Tão escuro e tão fundo
Nunca mais chegava
Ao centro do mundo.

Olhei o relógio,
A montra da hora
A queda era grande,
Era longa a demora.

Farto de cair,
Ergui a cabeça
E então levantei-me
Com toda a pressa.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O programador incansável

Com afico perseverante,
Noite e dia incessável
Labuta. Tem garra inflamante
O programador incansável.

Caixas de texto, botões,
Janelas de muitas cores,
Em maranhas de funções
Programa vários sabores.

Algoritmos mui marados
E lógica de estontear,
Tantos ciclos alinhados
P'rós programas funcionarem.

Variáveis e coisas tais
Para receberem valores
Seja em números ou literais
Apropria operadores.

Engendra tamanhas classes
P'ra instanciar objectos
Com padrões e interfaces
Em complicados projectos.

Polimorfismos e heranças,
São, p'ra ele, doce comer
São conceitos p'ra crianças
Que estão aprender a ler.

Das bases de dados é ás,
Um exímio campeão.
Qualquer área lhe apraz
Em sistemas de informação.

-Oh! Banalidades triviais!
Diz com ares de doutor.
-Arquitecturas banais
De cliente-servidor.

São comentários de artista,
De ousado programador,
Um grande especialista
Ligado ao computador.

De corpo e alma se entrega
À arte que tão bem ama.
Se o dia não lhe chega,
À noite nem vai à cama.

Excelentes programas tece,
Incansável, o André,
Mesmo quem bem o conhece
Nem sonha como ele é.