domingo, 17 de janeiro de 2010

Vida que queria para mim

Entre a canízia da moita,
À noite, canície ao luar,
Vislumbro um vulto.
Será um viandante que ali pernoita,
Apenas um homem culto
Por ali a divagar
Ou a vista que me engana
Nesta conezia do tempo meu?
Quiçá, alguém que se esqueceu
No frio gelado lá fora
De tudo o que tanto ama,
Alguém perdido em melancolia
Que a vida abandonou;
Quiçá, alguém cheio de alegria
Que por ali se encontrou.
É pequena a janela do meu quarto
Que na noite de insónia vem,
Calvas moiteiras e pasto grado
Estendendo-se muito além;
Ao longe, uma ténue sombra
Que porventura me lembra alguém,
Por ali anda ao relento
Como um estranho mendigo
À procura de um amigo
Sem abrigo, sem alento.
Visto-me para encontrar um caminho
Por entre o pasto a maninho
Mas o gelo debilita a fúria
Nas altas horas que são.
-Sair de casa é incúria!
É desculpa para a longuidão.
Olho de novo a janela
O homem que muito além estivera
Levantara-se e zarpara avante.
Invejo o intrépido caminhante,
Fazer-se ao mundo ignoto, assim,
Calcorreando caminhos estranhos,
Vivendo acasos tamanhos,
Vida que queria para mim.

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