sábado, 14 de maio de 2011

Desamparada

Estrias na face marcadas
Por duras lágrimas a escorrer
De tristes vistas lavadas
Pelo pranto ao anoitecer
São cantos, são hino
Às injúrias da vida.
Na capela, toca o sino
Deixando só a quem, o destino
Irá deixar esquecida.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Igrejas e relógios

Subo as imensas escadas que dão ao topo da montanha. Levo algumas horas a lá chegar. As escadas continuam no interior da igreja intervaladas por grandes patamares ladeados por outras igrejas. Eram miríades de igrejas dentro de uma igreja. E essas igrejas são relógios. São relógios do tamanho de grandes igrejas até se perder a vista.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Ser livre

É sentir-se igual em ser diferente,
Aceitar diferenças, sua ciência,
É ter força de quem, clemente,
Encontra abrigo na clemência.

É estar em casa em terra alheia
E correr mundo sempre em casa
É ir mais longe somente em ideia,
Voar tão alto sem ando ou asa.

É, da contenda sentir repulsa,
Adversar a guerra vivendo em paz,
Amar a vida que bate e pulsa.

É, sendo tão fraco, ser o mais forte,
Não temer o tempo, o que ele traz
E com um sorriso, olhar a morte.

domingo, 1 de maio de 2011

Nunca mais colhi flores

Nunca mais colhi flores.
Quando colho uma flor,
Ela passa a ser só minha
E acaba por murchar.
Se não a colher,
Ela será de quem a quiser
E viça.
Pode vir alguém e colhê-la para si.
A flor passa a ser dele
Mas murcha,
Deixa de ser de ninguém
E continuar viçosa.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O escolhido

Escorria-lhe o suor da fronte,
Lábios pelo sol gretados,
Olhos postos no horizonte,
Os dedos dos pés cortados
 
Levava ao colo um menino,
Inocente e pequenino
Nas areias do deserto.
Para onde ia, ao certo,
 
Era incógnita do destino.
Às garras do mal fugia,
Se esquivava à tirania
D'alguém déspota e bardino.
 
Seguia-o, como um cortejo
Bélico, uma multidão
Àquele cuja traição
Iria beber dum beijo.
 
O homem que o levava,
Levava-o, longe da guerra,
O menino que julgava
Um dia salvar a Terra.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Candeeiro da esquina

Candeeiro da esquina
Que alumias o caminho,
Alumia-me este escuro
Onde me encontro sozinho.

Candeeiro da esquina
Que alumias a calçada,
Alumia-me este escuro
Pois assim não vejo nada.

Candeeiro da esquina
Que alumias velha quelha,
Alumia-me este escuro
C'oa luz da tua centelha.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Cortesia de rua

Bom dia, dona Maria,
Como tem, moça, pastado?
Como há pasto em demasia,
Muito bem, muito obrigado!

Boa tarde, dão Duarte,
Como tem, senhor, pastado?
Como há pasto em toda a parte,
Muito bem, muito obrigado!

Boa noite, dona Maria,
Como tem, moça, pastado?
Incauta, quase comia
Pasto ruim: seco e estragado!