O rei decide avaliar
Todos os súbditos habitantes
Para, com isso, determinar
Se eram cultos ou ignorantes.
Manda, entretanto, fazer
Um teste de avaliação
Com múltiplas para escolher
A resposta certa à questão.
Os avaliadores desse reino,
Já com perguntas pensadas,
Tinham estudos, tinham treino,
Em matérias variadas.
Conheciam mnemónicas,
Detergentes e sabões,
As ligações holonómicas,
Sistemas e equações.
Em álgebra eram notáveis
Como os casos da matemática
E em semântica e gramática
Eram deveras versáteis.
Sabiam de geografia,
De filosofia e de história.
Dominavam geometria...
Mas que excelente memória!
Fizeram um exame cuidado
Com lápis e esferográfica
O qual acabou editado
Numa maquina tipográfica.
O teste seguiu na sacola,
Com perguntas sem malícia.
Foi entregue na escola
Com escolta da polícia.
Começaram a escrever
Com grande convicção
Pois podiam tempo não ter
P'ra resposta à questão.
O burro era analfabeto,
O cão não sabia ler,
O boi que era tão esperto
Nem contas sabia fazer.
A vaca falar não queria,
Mugia como uma estouvada
E a burra apenas sabia
Como se faz marmelada.
A cabra queixava-se ao anho
Com ares de preocupada
Que a sua cultura apurada
Era dos tempos d'antanho.
A galinha era sabedora
Pois sabia como poucos,
Era perita, era doutora
A versar vida dos outros.
O mocho é que brilhava,
Sabia tudo de cor
E o pardal se se enganava,
Corrigia com corrector.
A raposa que era folgada
Chegava atrasada ao exame.
Justifica que, na estrada,
Se tinha dado um derrame.
Depois de tão árdua prova,
Saíam os resultados.
Eram más notas de sobra
No edital afixados.
O rei muito aflito
Com essa imensa burrice.
Irado e num só grito,
Manda chamar o arúspice.
O caso por deslindar,
Analisam com veemência
Acabando por passar
Certificados de inteligência.
A estupidez que havia
Fora banida pelo rei
E aquele que nada sabia
Era inteligente, por lei.
Eliminada pelo sistema
Com arte tão aprumada,
A ignorância já não é problema
No reino da bicharada.
Sérgio O. Marques
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
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