sábado, 14 de agosto de 2010

O furto

Num domingo de calor
Diz com voz esganiçada,
A esposa do doutor:
Que desgraça! Fui roubada!

Veio p'ra rua sem medo
Atumultuando o dia.
Transformou tanto sossego
Numa intensa algaravia.

Uns, imitavam cochichos
Com sussurros de opinião.
Outros, com seus mexericos
Eram os mestres da razão.

Quem roubou, ninguém sabia,
Mas, à laia de adivinha,
Toda a gente bem o dizia:
-Foi o filho da vizinha!

Morava ali mesmo ao lado
Um rapaz de mau vestir,
Sem emprego, sem cuidado,
Sem um chão onde cair.

Com um chapéu desbotado,
As calças rotas à frente
E o casaco tão rasgado
Lembrava um indigente.

A vizinhança alvitrava
Hipóteses sem fundamento
E o moço condenava
Sem cuidar de julgamento.

Somente ele era capaz
De um crime com malícia.
Para prender o rapaz
Mandaram vir a polícia.

Era sabido e experiente
O detective de serviço.
Pôs ordem naquela gente,
Acabou com o reboliço.

Fez perguntas, inquiriu,
Toda a gente interrogou.
Ninguém sabe, ninguém viu,
Quem o crime perpetrou.

Formulou com diligência,
Juntou factos, diligente.
Concluiu em evidência:
- O rapaz está inocente!

Encontrou na sua safra,
Uma prova concludente.
Descobriu o autor da farsa,
Um homem fino e decente.

Andava sempre de fato
E gravata a adornar.
Tinha um odor perfumado
E um sorriso de encantar.

Dizia ser professor,
O homem galante e cortês.
Afinal o tal senhor
Era ladrão de má rês.

O biltre que era ladrão
Enganou tantos espertos,
Deixou-os sem reacção,
Ficaram boquiabertos.

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