domingo, 1 de agosto de 2010

No teu carinho

Vi
Os rios a serpear,
A brisa, de leve, a soprar,
Os pássaros no céu a voar,
As ondas do mar a quebrar,
As árvores, ao vento, a dançar,
Safiras e esmeraldas a brilhar,
Um sino, na torre, a tocar,
Um velho baloiço a balouçar,
O sol, no céu, a raiar.
Vi
Mil cores do arco-da-velha,
A lua que no firmamento espelha
A magia do luar,
O uivo dum lobo em silhueta,
O som estrénuo de trombeta,
Pelos ares a acalentar,
As montanhas brancas de neve
Das histórias de embalar
Que tão bem o tempo escreve.
Vi
Os peixes no mar a nadar
Salgado com o mais fino sal,
Belas estrelas a cintilar
No escuro espaço sideral,
Um diamante raro e puro,
Um morango já maduro,
O amor que faz amar,
Panaceia universal,
Vi a pedra filosofal.
Vi
Tesouros de atarantar
Em ilhas de fantasia
Com aroma, a flores, no ar
E fragrâncias de alegria,
Uma rocha com forma estranha
Perdida em algum lugar,
Traços de beleza tamanha
Do crepúsculo a iluminar
Quentes tardes de nostalgia.
Vi
O sono monótono e dormente
Duma máquina a maquinar
Inconstante, constantemente
Incessante, sem cessar,
O grito intenso e mordaz
De um martelo a martelar,
Ode poética e loquaz
De um poeta a poetar,
Da indústria, a declamar.
Vi
A Primavera e os anseios,
Nos jardins, de amores sinceros,
O Verão que, nos meneios,
Traz, singelos, os seus esmeros,
O Outono a folhear
As copas enrubescidas
Que o Inverno, a desnudar,
Despindo-as, as traz despidas,
Numa canção de embalar.
Vi
O gado no prado verde
Tão sereno, a deleitar
Saciando fome e sede
Na erva fresca a crescer,
Num riacho ali a passar
De água límpida a correr,
Um catraio a brincar
Sem nunca se aperceber
Sem nunca parar para pensar.
Vi
A serra tão longe, além
Do horizonte que fascina,
O carinho duma mãe
Trazendo ao colo uma menina,
Uma fada tão brilhante
Numa terra encantada
Dum reino antigo e distante
Doutro tempo, doutro instante,
Uma rosa encarnada.
Vi
A beleza de arrebol
A tingir o firmamento,
A calmaria ao pôr-do-sol,
O sabor doce dum momento,
A maravilha colorida
Duma aurora boreal
Magia, há muito esquecida
D'enlevo celestial,
Uma cidade d'oiro perdida.
Vi
O mundo na minha mão
Pintado duma estranha cor
Com a perícia dum artesão,
O sonho, todo o esplendor
Deste leito onde me aninho
Ao abrigo dos males da sorte,
Vi a vida até na morte
Na candura do teu amor
Na brandura do teu carinho.

Sem comentários: