sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Preso


Nunca soltou a amarra
Daquele cais onde se agarra
E se afunda lentamente
Nas areias movediças do fundo do rio.
Apenas fluem aspirações na corrente,
Um intenso desejo vaivém de liberdade,
De navegar ao largo como um navio
Sem escolta, sem calabre.

Somente o medo do avante,
Do que há mais adiante
Do longínquo horizonte, o desconhecido,
É-lhe cárcere do pensamento,
Preso, naquele porto perdido
Duma pátria de outro tempo,
Já tão velha como o velho arganéu
Onde, atracado e combalido,
Num estertor, aspira o céu.
Tem, por descanso, única tença.

Acreditou e a sua crença foi sentença.
Não caminhar, foi o seu caminho
Para morrer sozinho.

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