Vi lauta canção d'orvalho
Na fragrância da manhã.
Eram maçãs do teu rosto,
O arrebol duma romã.
O sol que se punha ao largo,
Corando, de rubro, o dia
Tinha a cor do teu sorriso,
Azul da tua alegria.
Uma bela borboleta
De flor em flor a voar,
Nas asas levava os olhos
Teus tão belos ao luar.
Bebi os favos de mel
E a fonte pura de água.
Só saudades do teu beijo
São sede da minha mágoa.
Cadentes, caíam estrelas
A brilhar rastos doirados.
Era a luz dos teus cabelos
Ao vento, esvoaçados.
As árvores bailam ligeiras
Num bailado meigo e mélico
Ao som do teu terno canto,
Sabor teu, doce e angélico.
Passam cerúleas as núvens
Brancas no céu de algodão,
Como os traços do teu jeito,
São formosa perfeição.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Ó monstros que me detestais
Ó monstros que me detestais!
O vosso ódio, tudo o que tenho
Sem direito a mais
É amor do vosso tamanho.
Ó seres escuros,
Filhos da treva e da sombra,
Irmãos do medo,
Tão crueis e duros
Sois frio da manhã cedo
A seita que me amedronta
E única companhia.
Vós, criaturas insanas
Do vale do abismo,
E das horas profanas
Temeis a luz,
Melancolia que bebo e cismo
E me seduz.
Vós, doutos do mal, a demência
Se vos engrandece, em natureza,
Porque a frágil complacência
É do tamanho da vossa fraqueza.
O vosso ódio, tudo o que tenho
Sem direito a mais
É amor do vosso tamanho.
Ó seres escuros,
Filhos da treva e da sombra,
Irmãos do medo,
Tão crueis e duros
Sois frio da manhã cedo
A seita que me amedronta
E única companhia.
Vós, criaturas insanas
Do vale do abismo,
E das horas profanas
Temeis a luz,
Melancolia que bebo e cismo
E me seduz.
Vós, doutos do mal, a demência
Se vos engrandece, em natureza,
Porque a frágil complacência
É do tamanho da vossa fraqueza.
sábado, 16 de outubro de 2010
O trovador finou
O cão ganiu,
O gato miou,
O boi mugiu,
O pato grasnou,
O porco grunhiu,
O burro zorrou
O cordeiro baliu
O lobo uivou.
Quando a noite caiu
O sino tocou
E o menino se entristeceu:
O trovador finou!
O trovador morreu!
Ganiu o cão,
Miou o gato,
Mugiu o boi,
Grasnou o pato,
Grunhiu o porco,
Zorrou o burro,
Baliu o cordeiro,
Uivou o lobo.
Quando caiu a noite,
Tocou o sino
E se entristeceu o menino:
Finou o trovador!
Morreu o trovador!
O gato miou,
O boi mugiu,
O pato grasnou,
O porco grunhiu,
O burro zorrou
O cordeiro baliu
O lobo uivou.
Quando a noite caiu
O sino tocou
E o menino se entristeceu:
O trovador finou!
O trovador morreu!
Ganiu o cão,
Miou o gato,
Mugiu o boi,
Grasnou o pato,
Grunhiu o porco,
Zorrou o burro,
Baliu o cordeiro,
Uivou o lobo.
Quando caiu a noite,
Tocou o sino
E se entristeceu o menino:
Finou o trovador!
Morreu o trovador!
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Conspiração (O grito da loucura)
Nas mais cavas catacumbas dos confins da Terra,
Muito além do que vista alcança,
Congeminam, senhores, silente guerra,
Tenebrosos inimigos da esperança.
O povo calado, consente, embrutecido
Por hordas de macacos sem açame,
As injúrias de uma sorte imane,
Escravidão de um passado já esquecido.
Roubam a memória, pilham a história
Às gentes já quase sem identidade,
Apregoando as maravilhas da liberdade;
Seu intento: somente poder e glória.
Vestem a fria máscara das fracas leis
Com pele de cobra e coração exangue
Os salvadores, majestosos reis
De mãos sujas a escorrer sangue.
Misturam vis, os ingredientes da loucura,
Num caldeirão sem fundo fervem o mal.
Com um sorriso dissimulado, sem levantar fervura,
Ainda mais deixam cego quem, de si, vê mal.
Muito além do que vista alcança,
Congeminam, senhores, silente guerra,
Tenebrosos inimigos da esperança.
O povo calado, consente, embrutecido
Por hordas de macacos sem açame,
As injúrias de uma sorte imane,
Escravidão de um passado já esquecido.
Roubam a memória, pilham a história
Às gentes já quase sem identidade,
Apregoando as maravilhas da liberdade;
Seu intento: somente poder e glória.
Vestem a fria máscara das fracas leis
Com pele de cobra e coração exangue
Os salvadores, majestosos reis
De mãos sujas a escorrer sangue.
Misturam vis, os ingredientes da loucura,
Num caldeirão sem fundo fervem o mal.
Com um sorriso dissimulado, sem levantar fervura,
Ainda mais deixam cego quem, de si, vê mal.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
Homem mau
Encosta a cabeça à janela
e pergunta:
- Mãe, que senhor ali vai?
- Um homem mau! - Responde ela.
O menino não imaginava o sacrifício
Que a mãe fazia para o ver feliz.
Fita o mendigo, entristecido
Pois encontrara-se nos seus olhos.
e pergunta:
- Mãe, que senhor ali vai?
- Um homem mau! - Responde ela.
O menino não imaginava o sacrifício
Que a mãe fazia para o ver feliz.
Fita o mendigo, entristecido
Pois encontrara-se nos seus olhos.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Folhas do meu livro
Sopra as folhas, um turbilhão tamanho,
Com memórias do que me não deslumbra.
As palavras, despregadas, em rebanho
Cintilam como estrelas na penumbra.
Fito o estranho livro de preta capa
E todas as histórias do que fui
Nas palavras escritas. Na lombada de prata
Finas letras lavram fogo que me alui.
Frases vêm a galope dum furacão,
As ideias incendeiam como o mar afoga
E as folhas queimadas já não são
Sequer lembranças d'ontem que o meu peito roga.
Restam longas sandices dum breve amor,
Versos escritos na alma a alegria e dor.
Com memórias do que me não deslumbra.
As palavras, despregadas, em rebanho
Cintilam como estrelas na penumbra.
Fito o estranho livro de preta capa
E todas as histórias do que fui
Nas palavras escritas. Na lombada de prata
Finas letras lavram fogo que me alui.
Frases vêm a galope dum furacão,
As ideias incendeiam como o mar afoga
E as folhas queimadas já não são
Sequer lembranças d'ontem que o meu peito roga.
Restam longas sandices dum breve amor,
Versos escritos na alma a alegria e dor.
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