sábado, 12 de setembro de 2009

Angústia

Explode-se a mente
No corpo taciturno da noite.
As vozes do passado em uníssono
Irrompem o silêncio de veludo
Com gritos de guerra e dor lacinante.
-A morte se avizinha! - Clamam,
Enquanto o tempo cessa a marcha
E teima em não passar.
-O fim está próximo! - Rompem
Em trovões o quarto sozinho
Fechado num escuro inaudível.
As gotas de chuva lá fora,
Trupando de mansinho à janela
Jorrariam tragos de uma terna carícia,
Uma estranha esperança do amanhecer.
Mas o tempo quente é seco
E a chuva não se faz cair em ermos.
Revolve-se o pensamento
Procurando um recôndido recanto
Onde se agasalhar de si mesmo.
Ele encontra-se e encarcera-se em si.
-Uma palavra que me liberte de mim!
Pensa, esse pensar que também o faz
Já tão cansado de respirar.
-Um gentil gesto que me alivie!
Procura a paz que não conhece
No ténue som que nem sequer ouve
Das trindades do sino duma igreja
Numa terra distante algures
No cimo da serra que se vê do leito.
-Venha o sonho, nem que seja pesadelo!
Deseja veemente, soltando uma lágrima.
-Porque pesadelo são destas paredes
O regozijo da minha solidão.
Dilui-se em prantos, imerge em choros,
Não se escapa por um segundo só,
Um breve alívio por mais efémero que seja.
Belingerente é a contenda consigo
Com gládios de aço com que se degladia.
Sossega só quando o sono vem e o carrega.

1 comentário:

Fatima disse...

Tu sabes do que estás a falar! É maravilhosa a forma como o retratas neste poema. Acho q é um poema com muito conteúdo. Parabéns, na tua habilidade de trabalhares as palavras na especificação do sentir, és Sublime!

Bjo

Fatima