Abana o unto, rola o presunto
A pandorca alucinada.
Mexe a banha, sem assunto
Numa lufa endiabrada.
Rola o corpo no sobrado
Com trejeito duma dança.
Treme a banha em todo o lado
Da cabeça até à pança.
A prega glútea meneia
Com rigor e muito estudo.
Estarrece a sala cheia,
Deixa tudo quedo e mudo.
Bate os pés, sacode as ancas,
Oscila os braços com garra.
As pernas, em nada mancas,
Quando vão, ninguém a agarra.
Célere vai o batuque
E o bailado a acompanhar.
Cobre-se o solo com o estuque
Das paredes a abanar.
Rangem tábuas do soalho
Com giros de arrepiar.
O pó do tecto é poalho
A teimar em não passar.
Dão saltos altos, as mesas,
A saltar à cabriola
Como cabras montanhesas
Ou crianças da escola.
Em cima, os copos poisados,
Tilitam ao chegar ao chão,
Ficam feitos em bocados,
Pedaços de confusão.
O barista já aflito,
Segura-se à prateleira
Para evitar o delito
De partir a garrafeira.
O candelabro balança
Com as luzes a piscar
Pois a gorda não se cansa
E não pára de dançar.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Arre cão
Arre cão, tu que não calas
A falácia que consome
Uivas, berras, lates, ladras
Ó esgalgado de fome.
Arre cão que me apoquentas,
Com ganidos infernais.
Atirar-te um pau às ventas
É o quanto eu quero mais.
Arre cão, bicho doente,
Gritas a tua doença.
Deixas-me a cabeça quente
A ditar-te a sentença.
A falácia que consome
Uivas, berras, lates, ladras
Ó esgalgado de fome.
Arre cão que me apoquentas,
Com ganidos infernais.
Atirar-te um pau às ventas
É o quanto eu quero mais.
Arre cão, bicho doente,
Gritas a tua doença.
Deixas-me a cabeça quente
A ditar-te a sentença.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Aqui sito
Aqui sito, onde meu sonho és tu,
Mais bela que as planícies douradas
Ao pôr do sol, diamante no baú
Das mais lindas flores requebradas.
Nesta nascente de amor antiga
Bebo amor, saudades daquele beijo,
Estrela ao colo de um auriga
Pelos céus do meu desejo.
Aqui sito, sob a copa desta árvore
Auguro nestes momentos escassos
À sombra do fim da tarde
Estar nos teus e tu nos meus braços.
Mais bela que as planícies douradas
Ao pôr do sol, diamante no baú
Das mais lindas flores requebradas.
Nesta nascente de amor antiga
Bebo amor, saudades daquele beijo,
Estrela ao colo de um auriga
Pelos céus do meu desejo.
Aqui sito, sob a copa desta árvore
Auguro nestes momentos escassos
À sombra do fim da tarde
Estar nos teus e tu nos meus braços.
sábado, 11 de setembro de 2010
Abandonado
Sóis e luas vêm e vão
Arando a azáfama da noite e dia.
Cansado, ao abandono, em demasia
São aspirações de desejos que não são.
Cresta-lhe a tez morena de um escuro triste
As intempéries com que o tempo, inocente,
Lhe fustiga, de espada em riste,
As entranhas, ao relento, qual demente.
A idade, doença de mão febril,
Irmã dos anos, séculos, milénios, eras
Acarta o mundo sem intento ou ardil.
Só lhe escapam vãs quimeras.
Prostrado na lama (estendida aos pés)
Sobra como ruína de outrora
A branca neve da alvice e, talvez,
Memórias que a hora não levou embora.
Não é injusto o sopro do último alento
Ou se aí se esvai sublime a dignidade.
Somente, insípido, o frio manto do lamento
Lhe abraça, de solidão, sem piedade.
A morte aguarda à porta à espera,
Paciente, a derradeira partida.
Augura alívios, pois só, desespera
As agonias enterrando aquela vida,
Dormida no berço lá fora.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
O retrato
Penteou para trás o cabelo,
Com pompa de bel galã.
Da ária se lhe aprumava o zelo,
Do joelho ao cotovelo
Na alegria da manhã.
Nas bochechas, o sorriso,
Rasgava-se na tez trigueira
Remexendo, sem juízo,
O sapato preto e liso
Engraxado à maneira.
Bem engomado ia o fato.
Cheiroso e resplandecente,
Trazia um doce palato.
Quando se abeirava da gente
Pavoneava contente:
- Vou tirar o retrato.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
Confidências à beira-mar
Ia à beira-mar
Na orla do dia
À alma lavar
Prantos que não queria.
Chorava as lamúrias
Em pingos de mel
Da vida, as injúrias
Marchando a granel.
Morrera-lhe um filho,
Outro era doente,
Sem luz e sem brilho
Rosto descontente
Levava a lembrança
De tempos tão nobres,
Perdia a esperança
Nas terras salobres.
As ondas que vinham
No som das areias
Alívio traziam
Ao mar das ideias.
Na orla do dia
À alma lavar
Prantos que não queria.
Chorava as lamúrias
Em pingos de mel
Da vida, as injúrias
Marchando a granel.
Morrera-lhe um filho,
Outro era doente,
Sem luz e sem brilho
Rosto descontente
Levava a lembrança
De tempos tão nobres,
Perdia a esperança
Nas terras salobres.
As ondas que vinham
No som das areias
Alívio traziam
Ao mar das ideias.
Subscrever:
Mensagens (Atom)