quinta-feira, 9 de julho de 2009

És-me muito

És a límpida água pura
Que me lava as mágoas do coração
Jorrando de um fonte mourisca
Como uma lágrima que escorre a face
Levando em alívio a tristeza.
Não te bebo, não te sorvo a seiva
Por te querer livre nesse rio prateado
Refrescando-me, de braços abertos,
Na alegria de uma carícia tua
A enxugar-me os prantos com pele macia.
És o mar na minha vida, azul imenso
A fustigar o branco areal da praia
Onde me deito ao brasido do sol,
Deleite de um banho fresco de água salgada
Num verão de tantas cores tropicais.
Perde-se-me o verde das copas das sequóias
No brilhante castanho do teu olhar;
Perde-se-me o colorido dum jardim de flores
No vermelho rosado dos teus lábios
A enternecer-me a alma num afago teu;
Perde-se-me o violeta de uma aurora boreal
No fino breu dos teus cabelos sedosos
A esvoaçar ao vento em maravilha
A escaldante frágua da tua grã beleza
Razão do meu alento, alimento que me dá vida.

És a centelha que me aquece o peito,
Luzeiro que me guia na perdição das trevas.
És a brasa que me aquenta nas noites do deserto,
O gelo refrescantes nas areias fervidas,
Oásis na minha sede demente de ser feliz.
Amo-te na tua luz, no teu brilho rutilante,
Sonho meu de olhos fechados sentindo a brisa
Do orvalho das ondas duma manhã de frescura
Com um ligeiro sorriso no semblante.
Ninfa companheira no desencanto da solidão,
Doce inspiração do fluir dos meus dizeres,
Quadro tão belo duma paisagem bela algures
Enches-me o peito do uivo intenso dum vulcão
A rugir ao vento com toda a pompa dum cometa,
Sonido estridente de trombetas e clarins.
Por ti, movo montes, bebo rios, corro mundo,
Navego solitário todos os sete mares
Ao teu encontro, ao encontro de quem és.
O azul e o branco do céu e das núvens
São o meu destino quando penso em ti.

És a chave em oiro da fechadura em prata
Desta prisão em grades de diamante
Desterro meu indigente de pedras preciosas.
Liberta-me em êxtase com o macio das tuas mãos.
Liberta-me dócil com o cheiro do teu cabelo.
Liberta-me gentil num momento no teu regaço,
Que, de tão efémero que seja, pareça eterno.
Liberta-me de mim, que que a mim prendo
E açoito, querer amar a vida com todo o peito
E cantá-la ao firmamento num poema declamado.
És viagem num país exótico há muito perdido,
Tesouro escondido que auguro encontrar,
Mil e uma riquezas de seda e cetim e ternura,
Terna virtude atávica dos tempos idos.
Mostras-me todos os quatro cantos do mundo
Num beijo apenas, num gesto singelo de paixão,
Num meneio ligeiro que me engraça e hipnotiza.
Perco-me onde não estás, preso onde não te vejo,
Canso-me, agastado, sempre que estás ausente
Despojado de tudo o que a mim m'importa.

És um abraço sincero e verdadeiro que receio dar,
Agarrado ao teu corpo sem te largar mais.
Aperto-te contra mim sem medo, descobrindo-me,
Conhecendo a felicidade que de mim brota.
A música és, canto teu que me encanta,
voz tua a toar nos meus sonhos mais belos,
Jardim florido em pétalas e miríades de cores.
O teu cabelo doirado é estrofe duma cantiga,
São teus olhos o brilho da alegria pintada
Num soberbo quadro, magnífica paisagem natural.
És voo de águia pairando nos ares ao vento,
Deslizar astuto de um pequeno peixe do mar,
Sabor exótico de uma especiaria estranha,
Tímida nascente dum fio d'água que se torna rio
Correndo as montanhas, vales e planícies
Ouvindo preces, levando choros e sorrisos,
Trazendo em si a beleza ondulante da brisa.
Sou teu, na fragrância a morango e rosas
Do teu corpo, no leve meneio que m'embebeda,
Que me leva numa longa viagem de barco à vela.

És a pedra filosofal que doira um palácio doirado,
Maravilhosa descoberta em retorta d'alquimista,
Sentido irracional na harmonia dos cinco elementos
Intenso requebre que me alenta o coração.
És o elixir da juventude, vontade minha de andar,
Doença saudável desta excessiva saúde doentia,
Regozijo insano, satisfação demente, jubilante,
Arrepio frenético serpeando-me corpo acima
Energizando-me cada célula, a carne minha,
Cada canto recôndito e sensível deste corpo meu.
És a forma do meu sorriso inato e profundo,
O sal que adoça cada lágrima que verto em júbilo
Jorrando-me a face, despecebida, ao teu pé,
Abraçado ao teu ventre como uma criança mimada.
Sinto saudade do teu riso sonoro e espontâneo,
Sinto saudade da tua mão macia no meu cabelo,
Sinto saudades de ti, na tua breve ausência
Mesmo que efémera. Sinto saudade, somente.
És o pão e água que me sacia, o sangue que me ferve.
És-me muito, és-me tudo, és-me cada vez mais.

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