Fui lá donde o vento vem
Numa carroça de pau de pinho.
Há muito que mais ninguém
Calcorreia esse caminho.
Fui lá donde canta o vento
Cantigas de alegria
Puxado por um jumento,
Minha única companhia.
Fui lá donde o vento sopra
A procela e a tempestade,
C'um barco à vela de lona
Num mar de serenidade.
Fui lá donde nasce o vento
Por um trilho íngreme e estreito
Revivendo cada momento
Com saudade d'amores no peito.
Fui lá donde o vento brota
E toca o velho moliceiro
Deixando cair a bolota
No sopé de um sobreiro.
Fui lá donde o vento espira
Lufadas d'ar fresco e puro
Procurar na vã mentira
Uma réstia dum doce auguro.
Fui lá donde o vento chama,
Encanto de sereia a enamorar
No encalço desta sede que m'imflama
De ao amor um dia o encontrar.
Fui lá donde s'ergue o vento
Pairando folhas rubras consigo
Enxugar meu triste lamento
E encontrar-me em si perdido.
Fui lá donde o vento mana
Em turbilhão duma cor difusa
Acalmar a desordem insana
Duma ordem algo confusa.
Fui lá escutar o vento,
Todos os segredos que esconde.
Algures entre pensamentos,
Guardei-os não sei bem onde.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
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