Andava azafamado burro
Com tinta de vivas cores
Na berma, a pintar o muro
Que dava para o lado da rua.
À margem, comentavam os doutores
Da engenharia do momento:
-Mas que obra essa tua,
Sem qualquer planeamento!
Diziam o boi, o bode e a cabra.
O cão, esse, não se manifestava,
Achava a pintura engraçada
De tons garridos sem condizer.
Luzia o sol do meio-dia
A crestar as carapinhas
Das pombas e das galinhas
E de toda a bicharia.
-Vou para dentro, vou comer.
Falava o burro aos engenheiros.
-Aqui ninguém quero encostado
Porque a pintura está fresca.
Não quero isto estragado,
Ou então vamos ter festa.
Asseverava com relinchos certeiros.
Gozava o burro, o boi
A limpar o suor da testa.
Nesse instante, o burro foi,
Logo os outros o seguiram,
Para almoçar, indo se foram.
Muito não tarda, passa o porco
Com um andar taralhouco
Arrimando-se á parede pintada
Degustando uma cigarrada.
Quando este segue viagem,
Deixa a parede cunhada
Com uma aterradora estampagem.
Logo que o boi chega, chega o burro
E apreciam tamanha obra.
-Isso foi a última vez!
Grita, com ira de sobra
E defere o burro ao boi um murro.
Estava o boi inocente
A pagar pelo que não fez.
Irascível, num repente,
Responde, à altura, à marrada
Armando-se, assim, um reboliço.
Por eles passa o porco
Com o mesmo andar taralhouco.
Trazia nas costas um castiço
Desenho de muitas cores
A causar inveja a senhores.
Foi a criatura injustiçada
No reino da bicharada.
Sérgio O. Marques
quinta-feira, 12 de junho de 2008
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