Trago no coração a vontade de viver,
A esperança, a emoção de querer, poder escolher.
Trago no coração a paixão, à vida amor
Esta dança que incendeia, melodia de esplendor.
Trago os teus olhos comigo, o sorriso teu tão belo,
Boca tua que beija a face, a fragrância do teu cabelo.
Trago no meu peito a força que me faz forte
E m'alenta e m'enebria e me faz vencer a sorte.
Trago o que desejo, cheiro a mosto calmo e claro
A inteligência do teu olhar, a inocência do teu reparo,
Este fluido que fomenta e por mim flui e m'acalenta.
Trago comigo lírios e uma cama de rosas brancas
Onde te deito e por ti velo afagando as tuas tranças.
Trago-te, vida, porque te tenho e és tudo o que mais quero.
sábado, 27 de junho de 2009
terça-feira, 23 de junho de 2009
Arte abstracta
Cubo assimétrico
Cristalino, cristal
Estranho vitral
Vítreo, anestético,
Bizarro mural
Cabeça, intriga
Caco de telha,
Cauda de formiga
Uma roca velha
A ser grão numa espiga
Chapéu borboleta
Turbilhão de cores
Sapos fumadores
A dormir na praceta
Ébrios escultores
Copa de sino
Árvore de tromba,
Pinheiro albino
Em penas de pomba,
Gorro pequenino
Movimento estéril,
Cilindro prismático
Rodando pueril,
Volvendo estático,
Vibrar sinemático
Uma porta aberta
Para nenhures
Duma forma incerta
De seda coberta
Deitada algures
Quadrados redondos
Azuis e vermelhos
Losangos e rombos,
Rectângulos oblongos
Já gastos e velhos
Estátua de pedra,
De ferro e ferrugem
Em penas e penugem
Onde cresce e medra
Tão linda marrugem
Torres enormes,
D'aço temperado
Torcido e esticado
Em espiras disformes
Encostadas de lado
Sentimento difuso
De ouro ou de prata,
Inteligente, obtuso
Claro e confuso
Da arte abstracta
Cristalino, cristal
Estranho vitral
Vítreo, anestético,
Bizarro mural
Cabeça, intriga
Caco de telha,
Cauda de formiga
Uma roca velha
A ser grão numa espiga
Chapéu borboleta
Turbilhão de cores
Sapos fumadores
A dormir na praceta
Ébrios escultores
Copa de sino
Árvore de tromba,
Pinheiro albino
Em penas de pomba,
Gorro pequenino
Movimento estéril,
Cilindro prismático
Rodando pueril,
Volvendo estático,
Vibrar sinemático
Uma porta aberta
Para nenhures
Duma forma incerta
De seda coberta
Deitada algures
Quadrados redondos
Azuis e vermelhos
Losangos e rombos,
Rectângulos oblongos
Já gastos e velhos
Estátua de pedra,
De ferro e ferrugem
Em penas e penugem
Onde cresce e medra
Tão linda marrugem
Torres enormes,
D'aço temperado
Torcido e esticado
Em espiras disformes
Encostadas de lado
Sentimento difuso
De ouro ou de prata,
Inteligente, obtuso
Claro e confuso
Da arte abstracta
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Um pensamento a adivinhar a noite
Algures na distância
Vislumbro o futuro na franja da noite.
Do dia, enxergo o passado da infância
Preso na nostalgia da rubra tarde ao crepúsculo
Num turbilhão de folhas do meu pensamento.
Sento-me hirto. Cada tendão, cada músculo
Se estaca perante a dimensão do firmamento.
Hã tanto que quero fazer numa gota do tempo.
Apenas uma gota é minha neste imenso oceâno,
Grão de poeira cósmica num espaço infindo.
Sinto um arrepio na espinha quase insano.
Enquanto a vida avança eu páro e penso,
Pensar louco, loucura de ser intenso
Que porventura tudo isto é belo, tudo isto é lindo.
Vislumbro o futuro na franja da noite.
Do dia, enxergo o passado da infância
Preso na nostalgia da rubra tarde ao crepúsculo
Num turbilhão de folhas do meu pensamento.
Sento-me hirto. Cada tendão, cada músculo
Se estaca perante a dimensão do firmamento.
Hã tanto que quero fazer numa gota do tempo.
Apenas uma gota é minha neste imenso oceâno,
Grão de poeira cósmica num espaço infindo.
Sinto um arrepio na espinha quase insano.
Enquanto a vida avança eu páro e penso,
Pensar louco, loucura de ser intenso
Que porventura tudo isto é belo, tudo isto é lindo.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
O homem ali sentado
O homem ali sentado quando aparece
Até parece
Que não se lembra se se esquece.
Vem. E quando vem, ali se senta
E, sentado, já não se lembra
Nem se atenta
Ou sequer se apoquenta
Com o que vai e acontece.
Anda sóbrio,
Quando não ébrio,
Contente,
Quando não triste,
Luta, se não desiste
E se fala, não calado
O homem ali sentado,
Se ébrio, então não sóbrio
Quando fala, não se cala,
Se calado, então não fala.
O homem ali sentado
Se não se fica, é porque vai
Simplesmente sai,
Vai, passeando em qualquer lado.
Só se levanta se se senta
Ou se deita e se se deita
Fica deitado.
Se não sabe, inventa,
Se não inventa é acertado.
Quando alarga, não se estreita,
Se se entorta, não se endireita,
O inveterado vertebrado,
Osso duro de roer,
O homem ali sentado
Bebe um copo em bom beber.
Está sozinho, desacompanhado,
É solteiro, não casado,
O homem ali sentado
Está sedento, se não bebe
E se não come, esfomeado
Se saciado, fica sem sede
E sem fome, enfastiado,
Quando corre, não parado
Se se não liga, desligado
Não se pesa nem se mede,
O homem ali sentado
Ao encosto da parede.
Até parece
Que não se lembra se se esquece.
Vem. E quando vem, ali se senta
E, sentado, já não se lembra
Nem se atenta
Ou sequer se apoquenta
Com o que vai e acontece.
Anda sóbrio,
Quando não ébrio,
Contente,
Quando não triste,
Luta, se não desiste
E se fala, não calado
O homem ali sentado,
Se ébrio, então não sóbrio
Quando fala, não se cala,
Se calado, então não fala.
O homem ali sentado
Se não se fica, é porque vai
Simplesmente sai,
Vai, passeando em qualquer lado.
Só se levanta se se senta
Ou se deita e se se deita
Fica deitado.
Se não sabe, inventa,
Se não inventa é acertado.
Quando alarga, não se estreita,
Se se entorta, não se endireita,
O inveterado vertebrado,
Osso duro de roer,
O homem ali sentado
Bebe um copo em bom beber.
Está sozinho, desacompanhado,
É solteiro, não casado,
O homem ali sentado
Está sedento, se não bebe
E se não come, esfomeado
Se saciado, fica sem sede
E sem fome, enfastiado,
Quando corre, não parado
Se se não liga, desligado
Não se pesa nem se mede,
O homem ali sentado
Ao encosto da parede.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
A tempestade - continuação
O mar agitou-se em desaire, desvario
Da escuridão do tempo, húmida aragem
Portada a cavalo da negra pesada núvem
Que deslizava para mim sem eu de si ter tino.
Quando a gota de chuva caiu, fugi. Corri
Sem rei nem roque à procura de amparo,
De um abrigo onde poisar. Sem tento, caí.
Levantei-me novamente e novamente caí,
Caindo sobre mim a penitência do desamparo.
Nesse instante verteu-se-me vil impiedosa
A raiva irascível dum gelado jorro em torrente
Estrondeando relâmpagos e trovões, furiosa.
Encharcou-me o corpo, pungindo-me demente
Com afiados pregos, pedrisco gelado e frio
Que se me abatia em força sobre a cabeça nua.
O ímpeto da água corrente se fez num rio,
Rápido que tragava as valetas daquela rua
Levando consigo as folhas do outono distante
Num turbilhão a desaparecer ao largo.
Na doce acalmia desenhou-se um sabor amargo.
Da escuridão do tempo, húmida aragem
Portada a cavalo da negra pesada núvem
Que deslizava para mim sem eu de si ter tino.
Quando a gota de chuva caiu, fugi. Corri
Sem rei nem roque à procura de amparo,
De um abrigo onde poisar. Sem tento, caí.
Levantei-me novamente e novamente caí,
Caindo sobre mim a penitência do desamparo.
Nesse instante verteu-se-me vil impiedosa
A raiva irascível dum gelado jorro em torrente
Estrondeando relâmpagos e trovões, furiosa.
Encharcou-me o corpo, pungindo-me demente
Com afiados pregos, pedrisco gelado e frio
Que se me abatia em força sobre a cabeça nua.
O ímpeto da água corrente se fez num rio,
Rápido que tragava as valetas daquela rua
Levando consigo as folhas do outono distante
Num turbilhão a desaparecer ao largo.
Na doce acalmia desenhou-se um sabor amargo.
terça-feira, 9 de junho de 2009
Aninhado ao teu colo
Aninhei-me no teu peito
Escutando-o palpitar,
O seu bater tão perfeito,
Sabor a mel, meu deleite,
Fragrância do meu amar.
Constante o seu palpitar,
Do teu coração que toa,
Que me adormece e atordoa
No teu regaço a escutar
Bela harmonia que entoa.
Do teu coração que encanta,
Canto em voz de querubim,
Celestial serafim
Ouço-lhe a voz que me espanta
Dum anjo tão lindo assim.
Canto do teu coração,
Num lindo poema de musa,
Voz de sereia difusa:
Chamamento à perdição
Àquele que os sete mares cruza.
Faz-me cair no sossego
Deitado no teu regaço
À carícia desse abraço
Que me dás e onde me apego.
Corro o mundo num só passo.
Rosa tão branca, açucena,
Cada pétala de ti é céu,
Cada riso é amor meu,
Cada sopro é brisa amena
Que me envolve em fino véu.
Aqui deitado ao teu colo
Não sei se dormir consigo
Receando esse perigo
De te perder, desconsolo,
Nem sequer sonhar contigo.
Escutando-o palpitar,
O seu bater tão perfeito,
Sabor a mel, meu deleite,
Fragrância do meu amar.
Constante o seu palpitar,
Do teu coração que toa,
Que me adormece e atordoa
No teu regaço a escutar
Bela harmonia que entoa.
Do teu coração que encanta,
Canto em voz de querubim,
Celestial serafim
Ouço-lhe a voz que me espanta
Dum anjo tão lindo assim.
Canto do teu coração,
Num lindo poema de musa,
Voz de sereia difusa:
Chamamento à perdição
Àquele que os sete mares cruza.
Faz-me cair no sossego
Deitado no teu regaço
À carícia desse abraço
Que me dás e onde me apego.
Corro o mundo num só passo.
Rosa tão branca, açucena,
Cada pétala de ti é céu,
Cada riso é amor meu,
Cada sopro é brisa amena
Que me envolve em fino véu.
Aqui deitado ao teu colo
Não sei se dormir consigo
Receando esse perigo
De te perder, desconsolo,
Nem sequer sonhar contigo.
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Tempestade
Sentei-me à beira mar, um belo dia.
As vagas enrolavam a areia como carícia
Ao sabor da ligeira brisa que fazia.
A acalmia lembrava uma paisagem fictícia
Encerrada num belo quadro, moldura de ébano,
Pintado em vários tons de uma cor exótica,
Bela panóplia sob pórtico de arte gótica.
O vento levantou a amarra e, com um brusco aceno,
Zarpou insano levando consigo a doce paz,
Cândida quietude que a acalma e amansa.
Ouvi ao longe a tempestade, o fim da bonança
Num trovão a atroar nos ares voraz
O clamor do tempo que se fazia adivinhar
Com garra de raiva e uma voz irascível.
Semeou-se a procela sem eu sequer desconfiar
Naquele campo de blandícias e serenidade.
Olhei para trás e uma negrura incrível
De atemorizar afoutos, de tamanha a escuridade.
Levantei-me de súbito enquanto me caía na cara
Uma terna gota de chuva tão cristalina e clara.
As vagas enrolavam a areia como carícia
Ao sabor da ligeira brisa que fazia.
A acalmia lembrava uma paisagem fictícia
Encerrada num belo quadro, moldura de ébano,
Pintado em vários tons de uma cor exótica,
Bela panóplia sob pórtico de arte gótica.
O vento levantou a amarra e, com um brusco aceno,
Zarpou insano levando consigo a doce paz,
Cândida quietude que a acalma e amansa.
Ouvi ao longe a tempestade, o fim da bonança
Num trovão a atroar nos ares voraz
O clamor do tempo que se fazia adivinhar
Com garra de raiva e uma voz irascível.
Semeou-se a procela sem eu sequer desconfiar
Naquele campo de blandícias e serenidade.
Olhei para trás e uma negrura incrível
De atemorizar afoutos, de tamanha a escuridade.
Levantei-me de súbito enquanto me caía na cara
Uma terna gota de chuva tão cristalina e clara.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
A padeira peneira
A padeira tinha uma peneira
Para poder peneirar.
Peneirava com peneira, a padeira
Para o trigo do joio separar.
Enquanto a peneira peneirava,
Toda a gente reparava
Em todo aquele menear
E a padeira lá continuava
Com frenético peneirar.
Enchia ao topo a padeira
De farelo e farinha
Toda a peneira que ela tinha,
Peneirando com vigor
A farinha do farelo
Com um peneirar tão singelo
De tão quente o seu calor.
Eram muitas as peneiras da padeira
Com que ela peneirava:
Peneirava o grão com peneira grossa
E ara peneirar a escassa,
Fina peneira ela usava.
É uma catraia diligente.
Na lida não há brincadeiras
Com a padeira peneirenta
E todas as suas peneiras.
Para poder peneirar.
Peneirava com peneira, a padeira
Para o trigo do joio separar.
Enquanto a peneira peneirava,
Toda a gente reparava
Em todo aquele menear
E a padeira lá continuava
Com frenético peneirar.
Enchia ao topo a padeira
De farelo e farinha
Toda a peneira que ela tinha,
Peneirando com vigor
A farinha do farelo
Com um peneirar tão singelo
De tão quente o seu calor.
Eram muitas as peneiras da padeira
Com que ela peneirava:
Peneirava o grão com peneira grossa
E ara peneirar a escassa,
Fina peneira ela usava.
É uma catraia diligente.
Na lida não há brincadeiras
Com a padeira peneirenta
E todas as suas peneiras.
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