segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A um passo

Com uma seca lágrima apenas
Encho o abismo e é escuro,
Escuro como o quadro da parede,
O quadro do baloiço e da senhora
Que nele se baloiça, encantadora.
Só lhe temo o que está por trás,
Escondido na escuridão à espereita.
Sinto frio, um temor mordaz
Desta única noite que esconde o dia,
Aquele dia que vem e se deita,
Se levanta e sai, concha vazia,
A forjar memórias de esquecer.
De novo cai esta noite,
Noite que nunca deixou de ser.

Olho em redor e vejo um muro!
Em cima, vislumbro o céu:
Melancólico, monótono , soturno
Quente e sincero sob cerúleo véu.
De onde a onde passam serenas,
Lentamente, núvens brancas
Só isso muda, e isso apenas.
Assim aí poderei viver liberto.
E salto! Salto para o céu aberto
Com força que o pranto esqueceu.
Quanto mais salto, mais o muro é alto!

Fervilha-me o pânico de terror
Como bolhas de ar num borbulhar
Frenético em água a ferver,
Estocástico caos (de ensandecer).
A loucura falha, em não tardar.
Chorar por fora, para quê?
Sofro por dentro, porquê?
A vida não me permitiu viver
Nem eu a permiti fazê-lo.
Sei que me espera algo bom
Mas virá quando eu não quiser,
Quando mais nada importar.

Sérgio O. Marques

Sem comentários: