sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Vampiro

Escuta cada gemido cotundente
Provindo d'alguma catacumba escondida.
Sente o odor de cada urna,
Escaninho d'algo demente.
E essa dor é seu modo de vida.

-Danço lúgrube a valsa nocturna
Com lânguidos passos sob a luz da lua.
Sinto o cheiro do pavor e do medo
De quem me teme em me desconhecer.
Impregna-se este ódio frio em meu ser
Que me gela mórbido desde cedo.
Cresce-me, então, este sórdido desejo
Em lhes sorver o calor que os aquece,
Sacio-me do sangue com delicado beijo
Que me afaga e se me não esquece.
Mas é efémero esse raio de luz
E de novo s'abate a perdição,
Essa fome e essa sede que me seduz.
Deambulo só e há muito na escuridão.
Agora só me fere o rutilar do dia
E nada mais pode haver que m'alumie.

Vejo-o desta janela d'onde durmo
A bailar solitário hediondo
Deslizando suave sobre um ar soturno.
O luar resplandece e me escondo
Do seu olhar terrífico de petrificar.
Ele sabe que o observo e m'amedronta
Na esperança que adormeça para me matar.
Devo suprimi-lo antes que me encontre.
Apenas penso no que me fará, se me vir
No que me terá reservado se m'agarrar:
Beber-me o corpo, a carne haurir.
Espero impaciente o nascer da manhã
Portadora do majestoso sol matinal,
Portentoso desterro dos filhos do mal.
Amanhã estarei preparado. Amanhã!

Quem calcorreia os caminhos de dia
Olvida o silêncio da noite e a companhia
Da lua. Amar é a forma do ser mais pura,
Seja ao sol do dia, como à noite errante.
Sim! Porque um vampiro almeja a cura
Nem que seja por um breve instante.

Sérgio O. Marques

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