sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

No destino

Sento-me aqui hoje,
Nesta áspera pedra
Que amacia o meu corpo,
Finalmente no meu destino.
Cheguei onde outrora quisera.
Agora? Agora já não queria.
Agora já não tenho aquela força
De ser estrénuo cavaleiro andante
A travar batalhas em constante
Alvoroço. Não vivo fechado,
Preso sob a égide envolvente
A escurecer o céu ao por e ao nascer
Do sol em cada tarde, em cada manhã,
Em cada crepúsculo em si a trazer
Aquele cheiro que me é saudade
Mas, por fim liberto, em liberdade
Decido cá ficar, a sentir na face
Este calor que um dia me arrefeceu.
Da viagem feita, colhi apenas
Em cada caminho de terra, pequenas
Pedras coloridas que me agradavam,
Não por serem bonitas ou brilhantes,
Simplesmente pela sua cor a pintar
O escuro chão, último companheiro.
Aqui sentado, admiro-as, admiro-lhes
A coragem de serem paisagem,
De se poderem tornar grandes palácios
E de nos ensinar aquilo que somente
Nós teríamos desejo de aprender.
Jogo-as sobre este musgo molhado,
Paladar húmido da velha nostalgia
Para que ensinem ao próximo eremita
Os seus sonhos mais profundos,
As suas aspirações na sua senda,
Para que quebrem seus escudos
E os mostrem ao mundo e o mundo a eles.
Quem sabe se não encontrem aqui paz
E que, juntos, construamos um castelo,
Um lar, uma família unida
Por laços de terna amizade.
A minha viagem terminou aqui.
Não quero mais voltar atrás
Nem conhecer o que desconheço.
Já não vou até ao mundo
Nem espero que o mundo venha até mim
Mas, se este um dia bater
De mansinho à minha porta,
Deixá-lo-ei entrar e sorrir comigo,
Sorrir comigo e abraçá-lo,
Abraçá-lo como a um amigo.

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