Eureka! Eureka! Gritava
Eufórico o mocho na praça.
Que se passa? - Perguntava
A galinha com um ar de graça
Enquanto ele passava por ela.
Não a ouvira, de tão grande a euforia.
Gritava com tamanha alegria
Que o pardal que dormia
Acordou e se apeou à janela.
Um grande frenesi ficou instalado,
Ouvia-se um zunzum por todo o lado:
-Que lhe terá acontecido,
Porquê... tanto alarido?
-Se calhar anda bêbado ou drogado!
Alvitrava a burra mostrando-se esperta.
Returque-lhe a vaca, de si certa:
-Não o imagino assim. Ele não bebe
Nem tampouco toma drogas.
Talvez seja algum requebro.
-Ainda dormes! Vê se acordas.
Diz-lhe a burra com sorriso matreiro.
-Ele anda nos estupefacientes,
Vejo-lhe isso pelos dentes
E o meu instinto é certeiro.
Só pensas em paixões ardentes.
Mal tinha isto acontecido,
Já circulava no povo um boato.
O mocho que era considerado pacato,
Passou a ser um valdevinos.
Entretanto serena-se-lhe o contatamento
E, sem dizer água vai, volta para dentro
Não dando satsifações a ninguém
Fechando freneticamente a porta atrás de si.
Só pode ser droga, este desdém!
Reafirma a burra enquanto se ri
Perante a vaca deveras atarantada.
Esta concorda. -Ele não anda nada bem!
Não anda nada bem! Mesmo nada, nada!
A galinha, ultrajada, correra para casa
Sem sequer desconfiar que o júbilo do mocho
Lá devia trazer grão na asa
Pelo modo como voava, apesar de coxo.
Chamem o rei para tirar isto a limpo
Clama a multidão que ali se ajuntou.
Chega o rei e a sua comitiva. -O rei chegou!
Alguém repara. Desce do coche a fumar cachimbo
E trupa à porta de quem se pensava doente.
Uma hora depois sai com um ar contente
Ordenando que se disperse a multidão,
Acrescentando: -Hoje é um grande dia p'ra nação.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
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