domingo, 18 de maio de 2008

Quando o burro foi ao médico

Quando o burro foi ao médico,
Vestia-se bem a rigor
Para se mostrar ao doutor.
Trazia umas calças de fazenda
E um elegante casaco sérico
De fazer grande furor.
Queixa-se com aflição:
-Senhor doutor,
É mui dura esta senda,
Não suporto esta dor.
Dói-me o tórax, a barriga,
O abdómen e o coração.
A garganta não arriba,
Nem o rim, nem o pulmão.
Na cabeça tenho dores,
Sinto nos músculos fadiga
E dos membros inferiores,
Já nem sei o que lhe diga.
Nos olhos tenho ramela,
Nos ouvidos, uma maleita
Que não sei a causa dela,
Pois que tanto cerume deita.
Returque o galeno apreensivo
Com uma ar de entendido:
- Sofrerá o senhor de apoplexia
E à mistura, hipertensão.
Juntamente com a hipotonia
Fustigam músculos e coração.
Na garganta, deve ser gripe
Nos olhos, conjuntivite
E nos ouvidos, uma otite,
Uma séria inflamação.
Diz o burro preocupado:
- Senhor doutor, estou tramado!
-Caro amigo, não se apoquente.
Diz o médico ao paciente:
-Para todo esse mal...
Falava com ostentação.
-Eis aqui uma panaceia,
Com cariz universal
Que a tudo remedeia.
É da última geração.
Continua, o médico, com atitude:
-É o elixir da juventude.
Mesmo que não o rejuvenesça,
Lhe cura essa doença.
Entrega ao burro, o doutor
Um copo cheio de líquido
Sem cheiro e sabor insípido.
-Senhor burro, beba tudo.
Diz o doutor com ar sisudo.
-Beba tudo até findar
Que isso é para o curar.
Passado um dia...
Grita o burro atarantado:
-Olha que bom, estou curado,
Sem mazela ou qualquer mágoa.
Mostrava uma grande alegria.
Tinha sido o burro sanado
Com um simples copo de água.
Foi mais uma criatura curada
No reino da bicharada.

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